O Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais, passou a abrigar um estudo científico inédito dedicado ao monitoramento do jacaré-de-papo-amarelo, espécie símbolo da Mata Atlântica e predador de topo dos ambientes aquáticos. A iniciativa busca compreender a ecologia e a dinâmica populacional do animal, além de gerar informações estratégicas para a conservação da fauna e dos sistemas lacustres da unidade de conservação.
A pesquisa é realizada com autorização do Instituto Estadual de Florestas e integra esforços de universidades e instituições científicas do Sudeste. O trabalho é coordenado pelo pesquisador André Yves, da Universidade Federal do Paraná e do Instituto Aqualie, e reúne uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadoras e pesquisadores em diferentes estágios da carreira acadêmica.
Desde dezembro de 2024, expedições científicas vêm sendo realizadas em áreas internas do parque, com foco em lagoas como Dom Helvécio, Carioca e Aníbal. Nessas campanhas de campo, mais de 50 jacarés já foram capturados de forma controlada, seguindo protocolos técnicos e éticos. Os animais passam por medições biométricas e coleta de amostras biológicas, sendo posteriormente devolvidos ao ambiente natural.
Os dados obtidos servirão de base para análises relacionadas à genética da conservação, à ecologia trófica e aos padrões de movimentação do jacaré-de-papo-amarelo no parque. A expectativa dos pesquisadores é compreender como as populações se organizam ao longo do tempo e como respondem a fatores ambientais e às transformações da paisagem.
Segundo André Yves, o acompanhamento contínuo é decisivo para a proteção da fauna e dos ambientes aquáticos do parque. “O monitoramento de longo prazo, abrangendo aspectos ecológicos da espécie, é essencial para entendermos como as populações de jacaré-de-papo-amarelo se estruturam na paisagem e respondem às mudanças ambientais. Essas informações são fundamentais para a conservação da espécie e dos ecossistemas aquáticos do Perd e estão em consonância com os objetivos da gestão da unidade de conservação”, afirma.
Importância do Parque Estadual do Rio Doce para a biodiversidade
O Parque Estadual do Rio Doce é reconhecido como a maior área contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais sob gestão do IEF. O território abriga um complexo de lagoas naturais considerado singular no Brasil, o que confere à unidade de conservação papel estratégico para a proteção da biodiversidade e para a produção de conhecimento científico.
Essa combinação de florestas preservadas e ambientes aquáticos transforma o parque em um laboratório natural a céu aberto, atraindo pesquisas voltadas à fauna, à flora e aos processos ecológicos da Mata Atlântica. Além disso, a área funciona como refúgio para espécies ameaçadas e contribui para a manutenção de serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação hídrica e o equilíbrio das cadeias alimentares.
Para o gerente do parque, Vinícius Moreira, o estudo com jacarés tem potencial para ampliar a compreensão sobre o funcionamento dos lagos do médio Rio Doce. “Para a gestão do parque, é de suma importância entender a ecologia da fauna, especialmente dos grandes predadores que coexistem no Parque Estadual do Rio Doce. Essa compreensão é fundamental para avaliar a qualidade da conservação da biodiversidade existente. A pesquisa com os jacarés no Perd é inédita e certamente também vai responder perguntas-chave para a melhor conservação da espécie, que sofre pressões como a caça, a redução de habitat e os impactos da crise climática”, destaca.
Além de contribuir para o manejo do jacaré-de-papo-amarelo, o estudo também pode lançar luz sobre questões mais amplas, como os efeitos da introdução de peixes exóticos nos lagos e suas consequências para o equilíbrio do sistema lacustre. A presença e o comportamento de grandes predadores funcionam como indicadores da saúde ambiental desses ecossistemas.
A proposta dos pesquisadores é estabelecer um monitoramento de longo prazo no Parque Estadual do Rio Doce, capaz de subsidiar políticas públicas e ações de conservação. Entre os principais focos do trabalho estão a avaliação da estrutura populacional ao longo dos anos, a influência da paisagem sobre a diversidade genética e as interações tróficas do jacaré-de-papo-amarelo em seu ambiente natural.
Com isso, o estudo reforça o papel do parque como referência em pesquisa científica e conservação da Mata Atlântica, ao mesmo tempo em que amplia o conhecimento sobre uma espécie-chave para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos brasileiros.
Fonte: Agência Minas
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