Uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal) analisou a situação financeira dos dez municípios com os maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do Sul de Minas Gerais e revelou diferenças relevantes no nível de endividamento público por habitante. O estudo chama atenção para o fato de que um PIB elevado não representa, necessariamente, menor dívida per capita, contrariando uma percepção comum no debate público.
O levantamento avaliou os municípios de Extrema, Pouso Alegre, Poços de Caldas, Varginha, Alfenas, Itajubá, Passos, Três Corações, Lavras e Guaxupé, todos com economias expressivas no contexto regional. Entre eles, Poços de Caldas aparece como o município mais endividado quando o indicador é dividido pela população, com uma média de R$ 2.707 por morador. O dado coloca a cidade no topo do ranking de endividamento per capita, mesmo figurando entre os três maiores PIBs do Sul de Minas.
Na outra ponta está Extrema, que concentra o maior PIB da região, estimado em cerca de R$ 13 bilhões, e, ao mesmo tempo, apresenta a menor dívida por habitante entre os municípios analisados. O resultado evidencia perfis distintos de gestão fiscal e estratégias diferentes de financiamento das políticas públicas locais.
Na sequência do ranking aparecem Alfenas, com pouco mais de R$ 1.400 de dívida por habitante, e Itajubá, com cerca de R$ 1.000. Varginha, Três Corações, Pouso Alegre, Passos, Lavras e Guaxupé registram valores inferiores na comparação per capita, com destaque para Pouso Alegre, segundo maior PIB da região, cuja dívida por morador fica pouco acima de R$ 400.
Esses números reforçam a conclusão central do estudo, que aponta a ausência de uma relação direta entre o tamanho da economia municipal e o nível de endividamento individualizado da população. Municípios com estruturas econômicas robustas podem apresentar dívidas elevadas por habitante, enquanto cidades igualmente relevantes em termos de produção registram índices mais baixos.
Outro caso analisado é o de Varginha, que possui um PIB estimado em cerca de R$ 8 bilhões e uma dívida per capita próxima de R$ 900. O cenário ilustra como trajetórias históricas de investimento, políticas fiscais adotadas ao longo dos anos e decisões administrativas influenciam diretamente os indicadores financeiros atuais.
Critérios da pesquisa e interpretação dos dados
O estudo foi desenvolvido por estudantes dos cursos de Administração Pública, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas do campus da Unifal em Varginha. Para a elaboração da análise, foram utilizados dados oficiais do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, com ano-base de 2024. A iniciativa teve como foco transformar números brutos em indicadores mais acessíveis, permitindo comparações mais claras entre municípios com perfis populacionais distintos.
De acordo com o professor de Finanças Públicas da Unifal e um dos coordenadores da pesquisa, Cláudio Caríssimo, a dívida pública municipal não deve ser avaliada de forma isolada ou simplificada. “O município ter uma dívida alta, não necessariamente é uma condição desfavorável, porque a dívida pode decorrer também de investimentos. É o que eles chamam de ‘dívida boa’, porque se o município constrói pontes, hospitais, etc., ele precisa desse capital de terceiros e isso melhora para a população”, explica.
O professor ressalta ainda que há diferença entre endividamento voltado à expansão da infraestrutura e aquele destinado ao custeio de despesas correntes. Segundo ele, a chamada “dívida ruim” ocorre quando os recursos são utilizados sem gerar retorno estrutural ou benefícios duradouros para os moradores.
Além de analisar o nível de endividamento per capita, a pesquisa busca ampliar a transparência das contas públicas e facilitar a compreensão dos dados fiscais por parte da sociedade. Ao transformar valores absolutos em indicadores proporcionais à população, o levantamento contribui para uma leitura mais precisa da realidade financeira municipal.
A Unifal informou que os resultados do estudo serão encaminhados às prefeituras dos municípios analisados. A expectativa é que o material sirva como instrumento de apoio ao planejamento, à gestão fiscal e à tomada de decisões das administrações municipais, além de subsidiar o debate público entre gestores, eleitores e cidadãos interessados no acompanhamento das finanças locais.
Fonte: G1
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