A parceria resultou em uma importante mostra que explora temas como o tempo e a estética da impermanência
São Paulo se prepara para receber uma instigante jornada artística com a exposição “Fluxo e Fragmento”, que será inaugurada em 10 de julho de 2025 na Galeria Barra Funda Autoral (BaFu).
A mostra, resultado da colaboração entre André Passos, fotógrafo, e o artista plástico Sandro Akel, promete mergulhar o público em uma profunda reflexão sobre a ação do tempo, a impermanência e a constante transformação da matéria e da vida.
Confluência de olhares e processos
A exposição “Fluxo e Fragmento” nasceu do encontro singular entre dois universos criativos que, embora distintos em suas abordagens, convergem na compreensão do desgaste não como um fim, mas como um poderoso agente de criação.
André Passos, fotógrafo conhecido por sua sensibilidade investigativa, apresenta obras que, ao longo do tempo, foram intencionalmente invadidas por mofo. Longe de ser um acidente, essa interferência orgânica é acolhida e controlada por Passos, transformando o fungo em uma linguagem visual que revela a beleza da impermanência e a renovação constante.
Em paralelo, Sandro Akel traz para a exposição obras que partem das camadas urbanas da cidade. Seus trabalhos são construídos a partir da coleta de cartazes retirados de muros, que carregam em si não apenas traços gráficos e textuais, mas a densidade do tempo urbano — múltiplo, confuso e saturado de vozes. Esses fragmentos se tornam abstrações táteis, revelando um cotidiano invisível e a efemeridade da paisagem contemporânea.
A arte da impermanência
O trabalho de André Passos na série “Exposto” é particularmente notável. A inspiração surgiu de uma experiência pessoal, quando o artista encontrou parte de seu acervo fotográfico mofando após um período de inatividade em seu estúdio.
Em vez de encarar o mofo como perda, o fotógrafo o adotou como agente criativo, provocando deliberadamente seu crescimento em algumas imagens. “Vi a beleza da impermanência. O mofo se tornou linguagem”, afirma Passos, conhecido por seu trabalho autoral e pela extensa carreira na fotografia de moda.
Esse “acidente” se transformou em um insight profundo sobre a continuidade da vida e a transformação, mesmo em condições adversas. O fotógrafo passou a provocar o crescimento de mofo em partes específicas de suas fotos, observando a vida que ali florescia e a forma como ela alterava a estética original, propondo um novo olhar sobre a matéria e a memória.
Fluxo e Fragmento
Em “Fluxo e Fragmento”, os universos de André Passos e Sandro Akel se encontram e se atravessam. Todas as obras são fruto de um processo colaborativo, construído a quatro mãos: a fotografia de Passos se torna ponto de partida para as intervenções de Akel, criando um território de diálogo em que imagem e matéria se contaminam mutuamente.
“O tempo, novamente, está em tudo. Nada aqui é estático. Tudo carrega o vestígio do que foi e a possibilidade do que ainda pode ser”, explica o fotógrafo.
A exposição também representa a continuidade do projeto “Exposto”, criado por André Passos em 2023. A iniciativa surgiu quando o fotógrafo revisitou seu acervo deteriorado e sentiu a necessidade de construir uma mostra que refletisse uma metáfora visual sobre o desaparecimento e a reinvenção. Agora, ao lado de Sandro Akel, a proposta se expande para incorporar o tempo como um agente criativo coletivo.
Fotógrafo André Passos
André Passos é um fotógrafo natural de Belo Horizonte. Formado em Fine Art Photography pela Sir John Cass Faculty of Art, Architecture and Design, em Londres, iniciou sua carreira na fotografia autoral, desenvolvendo um olhar sensível e investigativo sobre a imagem e o tempo.
Com o passar dos anos, enveredou pelo universo da moda, onde conquistou reconhecimento e protagonismo. Colaborou com algumas das mais importantes publicações internacionais e brasileiras, como W Magazine, Vogue, Harper’s Bazaar, Jalouse, L’Officiel, entre outras, consolidando-se como um dos principais nomes da fotografia de moda no Brasil.
Paralelamente à carreira editorial, participou de exposições coletivas, como CONTACT, no Barbican Centre, em Londres. De volta ao Brasil, foi selecionado para a exposição Novíssimos, na galeria Fototica, com curadoria de Fujocka Neto, Rubens Mano e Éverton Balardin.
Em 2023, realizou a exposição individual “Exposto”, na qual revisitou seu acervo afetivo e profissional — parcialmente deteriorado pela ação do tempo — e propôs um novo olhar sobre a impermanência da matéria. A mostra se desenvolveu como uma meditação visual sobre o fluxo constante da vida, a transformação e o ciclo inevitável do desaparecimento e da reinvenção.
Sobre Sandro Akel
Sandro Akel é um artista plástico com mais de três décadas de atuação no cenário das artes visuais. Um dos fundadores do coletivo Bijari, iniciou sua trajetória explorando as interseções entre arte, tecnologia e espaço urbano, por meio de instalações de grande porte, intervenções e ações multimídia.
Desde 2011, estabelecido no bairro da Barra Funda, em São Paulo, Akel passou a se dedicar exclusivamente à pintura, incorporando elementos do universo urbano em colagens e sobreposições de cartazes coletados em cidades como Berlim, Londres e Nova York.
Sua produção atual combina desenhos em grande escala com técnicas como a encáustica — que utiliza parafina — criando obras que mesclam refinamento estético e potência visual. Seus painéis e quadros vêm redefinindo a arte pop urbana brasileira, ao conjugar rigor compositivo com referências à cultura de massa e à paisagem urbana.
A obra de Sandro Akel destaca-se também pelo forte conteúdo conceitual e crítico. Ao reutilizar materiais descartados e enfatizar o consumo e o desperdício na sociedade, seu trabalho carrega uma mensagem social e ambiental profunda. Embora suas composições aparentem espontaneidade, cada peça é meticulosamente estruturada, evidenciando uma síntese entre liberdade criativa e disciplina.
Sua trajetória inclui exposições individuais e coletivas de destaque, como “Telha e Tijolo Sobre Carne e Concreto” (2017), “Trinca” (2018) e “Fundo da Barra” (2023), além de participações em eventos de grande visibilidade, como a Virada Cultural de São Paulo, e intervenções artísticas em espaços públicos, como a obra “O Salto”, exibida no viaduto Minhocão.
Serviço
Exposição: Fluxo e Fragmento
Artistas: André Passos e Sandro Akel
Curadoria: Cláudio Magalhães
Abertura: 10 de julho de 2025 – quinta-feira das 17h às 22h
Encerramento: 10 de agosto de 2025
Local: Galeria BaFu (Rua Barão de Tatuí, 240 – Santa Cecília – São Paulo – SP)
Horário de visitação:
De quarta à sábado das 12h às 19h
Domingos e feriados das 13h às 18h
Entrada Gratuita
Foto: Acervo do fotógrafo André Passos.